ARTIGO TEOLÓGICO
TEMA: O CONHECIMENTO NATURAL DE DEUS:
O HOMEM EM BUSCA DE DEUS
“Meu coração diz a teu respeito: ‘Procura sua face!’
É tua face, IHWH, que eu procuro, não me escondas a tua face” (Sl 27, 8-9)
Desde que o homem surgiu
no cenário da história observamos sua incansável e inquietante tentativa de
relacionar-se com a divindade, de buscar uma ligação com o transcendente que se
lhe apresenta como “mysterium tremendum et fascinans” (BIRCK, O. 1993).
Foi justamente este
movimento de caráter religioso que deu origem às mais diversas crenças e
religiões presentes em todas as culturas. Esta realidade leva-nos a afirmar
que a religião “[...] enquanto conjunto de conhecimentos, de ações e de
estruturas com que o homem exprime reconhecimento, dependência, veneração com o
Sagrado” (MONDIN, 1980, p. 248) é algo constitutivo do próprio ser humano,
embora saibamos que esta dimensão humana possa ser ignorada, esquecida ou até
mesmo livremente rejeitada.
Na verdade foi o próprio
Deus quem colocou no coração humano este incansável e inquietante desejo de buscá-lo,
como nos recorda o salmista: “Meu coração
diz a teu respeito: ‘Procura sua face!’ É tua face, IHWH, que eu
procuro, não me escondas a tua face” (Sl
27, 8-9). Também Santo Agostinho em suas Confissões
confirma esta realidade ao afirmar: “[...] porque nos fizeste para ti, e nosso
coração está inquieto enquanto não encontrar em ti descanso” (AGOSTINHO, 2002,
p. 29); ou ainda, conforme o testemunho neotestamentário: “De um só ele fez
toda a raça humana [...]. Tudo isso para que procurassem a divindade e, mesmo
se às apalpadelas, se esforçassem por encontrá-la, embora não esteja longe da
cada um de nós. Pois nele vivemos, nos movemos e existimos [...]” (At 17,26-28).
Fiel à Sagrada Escritura,
à Sagrada Tradição e ao legítimo conhecimento filosófico a Igreja em seu
ensinamento magisterial reconhece esta realidade afirmando que “o homem pode
conhecer certamente a Deus com a razão natural, por meio das coisas criadas (Rm
1,20)” (DZ, 3004-3005; DV, 6); pois “Deus, criando e conservando todas as
coisas pelo Verbo (cf. Jo 1,3)” (DV, 3) revela-se ao homem concedendo-lhe um
“permanente testemunho de si” (CIC, 54; DV, 3).
Porém, ela não deixa de alertar
que “O entendimento humano encontra dificuldades na aquisição de tais verdades,
já pela ação dos sentidos e da imaginação, já pelas más inclinações, nascidas
do pecado original” (PIO XII, 1999, p. 432). Entretanto a Igreja reconheça a
existência de “certas ‘vias” para aceder ao conhecimento de Deus (CIC, 31),
ensina igualmente que “deve atribuir-se à sua Revelação poderem todos os homens,
mesmo na presente condição do gênero humano, conhecer com facilidade, firme
certeza e sem mistura de erro o que, nas realidades divinas, não é de si
inacessível à razão humana” (DV, 6).
A Igreja reconhece que “as
faculdades do homem o tornam capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal.
Mas para que o homem possa entrar na sua intimidade, Deus quis revelar-se ao
homem e dar-lhe a graça de poder acolher esta revelação na fé” (CIC, 35).
Por Pe. Marcos R. Ferrucci
E-mail: padremarcosferrucci@gmail.com
ABREVIATURAS:
CIC - CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
DZ - DENZIGER
DV - DEI VERBUM
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
BIRCK,
Bruno Odélio. O Sagrado em Rudolf Otto. Porto Alegre: Edipucrs, 1993.
MONDIN,
Batista. O homem, quem é ele? São Paulo: Paulus, 1980.
AGOSTINHO.
Confissões.
São Paulo: Martin Claret, 2002.
DENZIGER, Hünermann. Conpêndio
dos Simbolos, definições e declaração de fé e moral. São Paulo:
Paulinas/Loyola, 2007.
Catecismo
da Igreja Católica.
Petrópolis: Loyola, Ave-Maria, Paulinas, Paulus. 1997.
PIO
XII. Humani Generis.
In Documentos. São Paulo: Paulus, 1999.
Dei Verbum.
In: Documentos do Concílio Vaticano II. São Paulo: Paulus, 1997.