sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

SUGESTÃO DE LEITURA


 Igrejas modernas, “feias como o pecado”
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Igrejas tradicionais, antecâmaras do Céu
Para arquiteto americano, muitos sentem, mas poucos dizem: as igrejas modernas criam um ambiente que leva à perda da fé. Em sentido contrário, as igrejas antigas, fiéis à tradição, estimulam a fé e a piedade, tornam atraente a virtude e alimentam o desejo do Céu.
Luis Dufaur 
Por certo o leitor já terá visto igrejas católicas em estilo moderno ou modernizado, ou mesmo entrado em alguma delas. Que impressão causam? Para muitos, as formas e estilos artísticos não tradicionais causam mal-estar psicológico. Por isso, não raramente lamentam-se, e confessam ter saudades dos estilos antigos. Se o leitor conhece gente assim, ou é um deles, encontrará aqui algo que lhe explicará muitas coisas.
Faltava a publicação de um estudo que apontasse com clareza, conhecimento, seriedade e respeito o que a nova arquitetura católica tem de censurável. Michael S. Rose, jovem arquiteto americano, doutor em Belas Artes pela Brown University (dos EUA), pôs o dedo na ferida. E a repercussão foi vasta. Seu livro, Feia como o pecado — Por que transformaram nossas igrejas de lugares sagrados em salas de reunião, e como voltar atrás(1), tornou-se leitura de referência. Na esteira desse sucesso, o autor publicou Em camadas da glória: o desenvolvimento orgânico da arquitetura das igrejas católicas através das épocas(2) e entrou na lista dos best sellers do “New York Times”.


No texto que segue, o primeiro livro será citado com a letra U (de Ugly, feia), seguida do número da página. E o segundo livro será citado com a letra T (de Tiers, camadas), também seguida pela página correspondente.

Ambiente arquitetônico influencia tendencialmente os fiéis

Michael S. Rose...
Embora Dr. Rose seja católico, escreveu sua obra do ponto de vista de um arquiteto. Identificou os princípios e usos que guiam os profissionais quanto à feiura arquitetônica religiosa moderna. Vasculhou na tradição e na história da Igreja as razões pelas quais um templo é católico independente de estilos, escolas e eras históricas. Encontrou um tesouro de doutrinas — algumas reveladas por Deus, e muitas outras elaboradas pelo Magistério tradicional da Igreja.
Constatou que os fundamentos dos estilos católicos para construir igrejas ao longo de dois milênios foram contestados e expulsos pela nova arquitetura eclesiástica. Não é uma divergência de gostos, preferências, comodidade ou custos, segundo o autor. Trata-se de uma oposição medular entre dois modos de considerar a ordem do Universo, da Redenção e da Igreja, aplicados à arquitetura.


... e as capas de seus...
As duas concepções passam mensagens antagônicas, através de formas estéticas, cores, proporções, num sem-número de elementos simbólicos materiais. Elas modelam o modo de sentir, de praticar e de aderir à fé e atingem algo muito íntimo: o próprio modo de ser de quem frequenta as igrejas.







... dois bestsellers

Dr. Rose timbra em ressaltar: “Um postulado básico que os arquitetos aceitaram durante milênios é que o ambiente arquitetônico tem a capacidade de influenciar profundamente a pessoa, o modo como ela age e sente, o que ela é” (T, 9). E acrescenta: “A arquitetura da igreja afeta o modo mediante o qual o homem pratica o culto; o modo de prestar culto afeta o que ele crê; e o que ele crê afeta não somente sua relação pessoal com Deus, mas o modo como se comporta na vida diária” (U, 7).

Como isso acontece? Rose o mostra, historiando a origem de ambas concepções.


Fidelidade das igrejas antigas às origens bíblicas e canônicas
O arcabouço do templo católico foi ditado por Moisés durante a travessia do deserto. Ele mandou que os judeus demarcassem nos acampamentos um espaço retangular sagrado. Numa extremidade era montada a tenda, ou tabernáculo, que continha a Arca da Aliança com as Tábuas da Lei. Diante da tenda, erigia-se o altar do sacrifício. Este esquema guiou a construção, pelo rei-profeta Salomão, do Templo de Jerusalém, completado em 966 a.C.

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Durante as perseguições romanas, os primeiros cristãos foram constrangidos a se congregarem em casas ou nas catacumbas. Quando obtiveram a liberdade em 313, com o edito de Milão, do Imperador Constantino, eles escolheram para suas igrejas os altos, ricos e imponentes edifícios chamados basílicas. Eram as construções mais próximas do Templo ideal. Possuíam cinco naves e uma abside reservada para os magistrados, a qual apresentava o chão elevado. Os cristãos acrescentaram um transepto para que a planta do edifício formasse uma cruz. No cruzamento dos braços da Cruz instalaram o altar. Em Roma, podem-se visitar algumas das mais famosas dessas basílicas, como a de São Paulo fora dos Muros, São João de Latrão e Santa Maria Maggiore. [foto 1]

2: Igreja Na. Sra. da Conceição, Ouro Preto

Essas basílicas cristianizadas constituíram o ponto de partida do estilo românico. Neste, o teto plano foi substituído pelos arcos de meio ponto que nos remetem à abóbada celeste. Surgiu depois o estilo gótico, com a ogiva que acena para alturas infinitas. Ele é hierático, sacral e solene; lógico, matizado e requintado; um resumo da ordem do Universo.

O estilo barroco deu ênfase ao movimento, às cores e à estatuária, manifestando aos fiéis a proximidade do mundo sobrenatural com o terreno. Luminoso, cálido e acolhedor, contrapôs-se à visão do protestantismo: ressequida, hirsuta, cinzenta e utilitária. Podemos apreciá-lo em inúmeras igrejas coloniais brasileiras. [foto 2]


Planta de Santa Maria Maggiore

O século XIX misturou os estilos, e até viu renascer o gótico. A variedade foi pasmosa, mas o espírito e o ambiente das igrejas católicas continuou sempre marcado pelo recolhimento, a sacralidade e a unção sobrenatural, sinais da aprovação divina. Esta continuidade, explica o autor, deve-se a que todos eles respeitaram os princípios da tradição arquitetônica católica.







Origens protestantes das igrejas católicas modernas




Na primeira metade do século XX apareceram igrejas em estilos modernos, desprovidas desse espírito. Como foi isso possível?
O arquiteto americano mostra que o protestantismo, estéril por natureza, foi incapaz de gerar um estilo arquitetônico próprio. Seus heresiarcas fundadores preferiram galpões sem graça. Porém, os pastores heréticos conservaram antigas igrejas católicas usurpadas, para se darem ares de credibilidade. É a razão pela qual, no Brasil, eles construíram alguns templos de inspiração neogótica.


Até que, em meados do século XIX, um movimento interno no protestantismo reivindicou prédios mais consentâneos com o seu espírito. Esses templos foram construídos focalizando leitura e reunião, e não o sacrifício do altar. Eles imitam anfiteatros e auditórios. Surgiu assim uma arquitetura “deliberadamente não-eclesiástica, sem altar, sem tabernáculo e sem presbitério” (T, 99).
Tendência análoga processava-se no modernismo católico. “Após a II Guerra Mundial, os católicos começaram a experimentar novas formas e configurações. [...] Algumas destas experiências foram inspiradas pelo movimento liturgicista católico, e dirigidas por líderes da arte e da arquitetura modernista [...]. A estatuária foi evitada, a estrutura de basílica foi descartada e o sagrado não foi mais diferenciado do profano. Utilizando linhas retas e geometrias abstratas, arquitetos como Rudolph Schwartz e Dominikus Bohm criaram 'espaços de culto' frios e secos muito antes que estas experiências atingissem o seu auge nas décadas que seguiram o Concílio Vaticano II” (T, 100-101). Nessas “experiências”, a piedade e a unção sobrenatural desapareceram.

Le Corbusier cria igrejas-máquina, ou de pesadelo

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O arquiteto suíço Le Corbusier criou dois exemplos típicos da nova arquitetura em sintonia com a nova teologia. “Sua Notre Dame du Haut (1950-1954) [foto 3] em Ronchamp, França, é talvez o epítome de uma igreja desenhada como uma escultura abstrata.









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O mosteiro dominicano de La Tourette (1951) [foto 4], [...] com seus espaços áridos e opressivos, foi um fracasso monumental” (T, 101-102).(3) Le Corbusier sustentava que a casa é uma “máquina para morar”.
Portanto, máquina, e não a figura humana, seria o paradigma para a arquitetura. Este critério insano “foi aplicado na arquitetura eclesiástica católica dos anos 60, enquanto que a Igreja, desorientada como foi pelo novo movimento litúrgico, sucumbiu à idéia de que a arquitetura da nova igreja deveria explorar os materiais e os métodos modernos.




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Então, a maioria das obras desta época foram efetuadas com aço, vidro e concreto, desenhadas como grosseiras massas, obedecendo à forma de conchas, navios, arcas e outros temas náuticos; ziggurats, naves espaciais, colméias, toldos de índio, artefatos para pouso lunar, e vários tipos de origami” (T, 102).(4)
 Entre esses templos revolucionários, Dr. Rose cita a catedral do Rio de Janeiro. [foto 5] Igreja cônica, algo sem precedentes no catolicismo, lembra ela os templos babilônicos, dos quais o maior foi a Torre de Babel (T, 100).

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O autor alude também à catedral de Brasília — que compara a uma torre para esfriar água — e à de Maringá, cuja forma cônica reporta-se ao satélite soviético Sputnik, lançado em 1957. [foto 6]














Protótipos para o século XXI causam horror


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O desconcerto e o mal-estar cresciam. Mas o pior estava por vir.
No ano 2000, segundo o arquiteto americano, três projetos visaram marcar a arquitetura do novo milênio. O primeiro foi a Igreja do Jubileu 2000, [foto 7] na paróquia romana em Tor Tre Teste, construída pelo arquiteto Richard Meier. Dela “se diz que foi concebida pela diocese de Roma como um protótipo para o III Milênio”. Reúne uma “série de paredes de concreto retilíneas e curvilíneas recheadas com vidro, todas num plano horizontal, como se o prédio pudesse ser arrancado qualquer dia e transportado a alguma outra superfície” (T, 104). Para os críticos, evoca mais a Opera de Sydney ou uma sala protestante perfeitamente puritana.

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O segundo foi a catedral de Nossa Senhora, de Los Angeles, EUA. [fotos 8 e 9] Teve-se em vista uma catedral que “com o seu aspecto grosseiramente volumoso, contrastes agudos, estrutura assimétrica desprovida de ângulos retos, rompesse deliberadamente com a continuidade histórica de dois milênios de arquitetura católica para as igrejas. Mas paga tributo aos últimos cinqüenta anos de estruturas para escritório, banais e sem inspiração, que têm poluído a paisagem do centro de Los Angeles e da maioria das outras cidades americanas” (T, 105).





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A terceira grande experiência foi a Catedral Christ the Light, em Oakland, Califórnia. O projeto vencedor, de Santiago Calatrava, propôs “uma concha gigante semi-aberta, uma caixa torácica ou pança de uma baleia. Foi a primeira catedral que iria ter um teto retráctil. [...] "The San Francisco Chronicle" descreveu a proposta como 'uma estrutura de costelas de aço pintado, vidro e concreto, que parece tão futurista como os restos de um esqueleto de uma criatura pré-histórica corcunda’” (T, 106-107).


Após descrever a divergência existente nas origens das duas tendências, o autor desce aos pormenores das oposições.



Continue lendo o artigo no próprio site da Revista CATOLICISMO: 
http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=B1D30CD4-3048-560B-1C40426C34447D00&mes=Agosto2006&pag=2


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